domingo, 23 de outubro de 2016

"Por que alguns entendem a Bíblia de forma errada?"

Não há dúvida de que há muitas pessoas que entendem a Bíblia de forma errada. A prova disso é a diversidade de explicações para um mesmo assunto e às vezes até para uma mesma frase e uma mesma palavra. Por que isso acontece? Isso é o que propõe responder a Torre de Vigia, em sua revista A Sentinela de janeiro de 2017, edição para o público.

Naturalmente, pressupõe-se que, quem se propõe dar uma resposta a perguntas desse tipo, já não tem os mesmos impedimentos, isto é, já satisfaz todos os requisitos para poder entender a Bíblia de forma correta. Mas é este o caso da Torre de Vigia?

A Torre de Vigia já entendeu a Bíblia de forma errada?

Eu não poderia deixar de começar este artigo fazendo uma pergunta à atual liderança das Testemunhas, o Corpo Governante:


A organização Torre de Vigia já forneceu explicações erradas para a Bíblia Sagrada?

Ok, não é preciso se rebaixar ao ponto de se disporem a me fornecerem pessoalmente uma resposta.

Com uma rápida olhada no livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino, posso encontrar algumas confissões, ainda que vagas, de que todas as lideranças anteriores cometeram a grande falha de entender a Bíblia de forma errada. Charles Taze Russelll escreveu francamente que ele e seu grupo seriam levados para o céu em 1914, e quando isso não aconteceu, alguns o tacharam de falso profeta e o abandonaram.
 “Deus não nos disse que seria assim [isto é, que seriam levados para o céu em 1914]. Ele permitiu que fizéssemos essa dedução [errada]; e cremos que revelou ser um necessário teste dos estimados santos de Deus em toda parte.” Mas mostraram esses acontecimentos que sua gloriosa esperança foi em vão? Não. Simplesmente significava que nem tudo estava acontecendo tão cedo como esperavam (A Sentinela de 1º de fevereiro de 1916, conforme citada em Proclamadores do Reino, página 136; os colchetes foram acrescentados por mim).
No folheto Milhões que agora vivem jamais morrerão, o sucessor de Russell, Joseph F. Rutherford escreveu de forma taxativa sobre uma nova data para a volta de Cristo, além de acrescentar que fiéis da antiguidade então seriam ressuscitados:
 “Abrahão, Isaac e Jacob . . . e outros fiéis antigos”, dizia lá em 1920, em inglês, o folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, “podemos esperar em 1925 a volta [dentre os mortos] desses homens . . . ressurgindo . . . à perfeição humana”. Não só se esperava a ressurreição dos homens fiéis da antiguidade em 1925, mas alguns esperavam que os cristãos ungidos recebessem sua recompensa celestial naquele ano (Proclamadores, página 78).
Durante a presidência de Nathan Knorr, uma palavra “geração”, no Evangelho de Lucas, serviu de base para a doutrina de que a geração de pessoas que vivia em 1914 alcançaria com vida um Novo Mundo, passando com vida pelo Armagedom. Esse entendimento errado desta passagem bíblica foi ensinado como verdade absoluta até ser descartado em 1995.

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Desde 1976, após a morte de Knorr, um grupo de cerca de 10 anciãos, que adotou para si o título de Corpo Governante, tem governado as Testemunhas de Jeová tal qual canal de comunicação entre Deus e as Testemunhas. Mas, diferentemente das lideranças anteriores, encontrou ele a fórmula mágica para entender a Bíblia de forma correta?  Pelo visto, não.
A respeito da doutrina da geração de 14, esta atual liderança defendeu-a com unhas de dentes até descartá-la em 1995, não porque leram na Bíblia que se travava de um erro, mas porque estava ficando indefensável. E como indicação de que foi um ajuste feito às pressas, apenas para salvar as aparências, o novo conceito então adotado já foi igualmente descartado como sendo um entendimento errado, e o atual conceito não apresenta nenhuma explicação lógica (para um exame mais abrangente deste assunto, veja o capítulo 3 do meu livro).

Então, Corpo Governante, a minha pergunta tem como resposta um enfático SIM. Todas as lideranças das Testemunhas de Jeová fizeram diversas afirmações erradas sobre passagens bíblicas, e a atual liderança, o Corpo Governante, com existência desde a década de 1970, tem igualmente entendido de forma errada este livro Sagrado.

Diante disso, parece absurdo que esta mesma liderança se posicione perante o público, com ar de sabedoria, com o objetivo de dizer por que alguns entendem a Bíblia de forma errada. A pergunta é neutra, não se dirige a nenhum grupo específico, mas poderia ser mais bem expressa com essas palavras: Por que nós, a liderança das Testemunhas de Jeová, por tantas vezes entendemos a Bíblia de forma errada?  Tendo em vista o histórico de erros acumulados, seria ao menos uma demonstração de humildade, o que não é pedir muito de quem se apesenta como representante de Deus na terra.



Mas façamos um exame do artigo, que é um ótimo exemplo de texto para se ler as entrelinhas.

Erros sem responsabilidade

Assim começa o artigo:

Uma menininha vê a fumaça que sai da chaminé de uma fábrica formando algo parecido com nuvens. Ela pensa: “Olha, uma fábrica de nuvens!” Esse pequeno mal-entendido pode até ser engraçado. Mas um grande mal-entendido pode afetar seriamente nossa vida. Por exemplo, se enganar ao ler a bula de um remédio pode resultar em graves consequências.

Podemos ir além e incluir aqui o caso em que alguém toma um remédio errado em razão de erro de prescrição. Quando isso ocorre, fica caraterizado um crime, e o médico responsável pode ser condenado e até pode perder a sua licença para exercer a profissão.
O Corpo Governante, no entanto, estringiu sua matéria a erros simples, a nível pessoal, como fica evidente na sequência do artigo, quando aponta três supostos erros que pessoas cometem ao interpretarem a Bíblia.

  • Elas entendem que a Bíblia requer que tenhamos medo de Deus, quando na verdade ela requer apenas que o temamos.

  • Elas leem a frase ”para tudo há um tempo determinado” e entendem que a Bíblia apoia o conceito de predestinação, quando na verdade a Bíblia fala do ciclo da vida, com nascimento, velhice e morte.

  • Elas entendem que a Terra será queimada por fogo, quando na verdade o que serão queimadas são as coisas erradas deste mundo.


Nota-se que, a propósito, foram citados apenas “erros” que a Torre de Vigia jamais cometeu; e por se tratarem de interpretações pessoais, as consequências, se as houvesse, seriam a nível pessoal, cada um respondendo por seus erros perante Deus, assim como Paulo afirma em Romanos 14: 12.  Por esse viés, parece-me que o Corpo Governante deseja excluir-se por completo de qualquer responsabilidade perante Deus, apesar de que, por tantas vezes, ter entendido a Bíblia de forma errada, e não só isso, mas ensinado isso como verdade absoluta a seus seguidores, e punindo com ostracismo social a todo aquele que decidisse abandoná-lo como guia espiritual. Por esse viés, fico impossibilitado de aplicar ao caso o acréscimo que fiz na analogia da pessoa que toma um remédio errado, não por interpretar mal uma bula, mas por prescrição errada de um médico.

Mas nem tudo está perdido, pois o que ocorre, nesses casos, é que as pessoas, de modo geral, adotam para si o entendimento de líderes religiosos, ou pelo menos o entendimento que seja comum entre seus círculos mais próximos. E o que vemos desde os tempos do cristianismo primitivo são lideranças religiosas postando-se como guias espirituais e procurando convencer outros de que apenas elas, e ninguém mais, são quem possuem a verdade cristã, e somente por meio delas é que se pode chegar até Cristo.

E a esse respeito, a liderança das Testemunhas de Jeová tem percorrido a terra inteira com o objetivo de obter seguidores. Em seus anuários há listas extensas de países onde a religião está presenta, e campanhas intensivas são feitas com o fim de aumentar o número de seguidores. Além do serviço de porta-em-porta, imprime-se literatura em centenas de idiomas e mais recentemente tem-se servido da internet e da TV com o objetivo de difundir sua mensagem que chama de “boas novas do reino”, que basicamente se resume em prometer um paraíso de delícias, com plena saúde, alimento saudável, plena harmonia e vida eterna. Com isso, atualmente cerca de 8 milhões de pessoas seguem essa liderança na expectativa de que, em breve, passarão com vida pelo Armagedom, e então viverão para sempre. O que acontece, no entanto, é que, há décadas, todo ano morrem milhares de Testemunhas sem que veja o cumprimento dessa promessa, e assim continuará por anos e anos, cada uma vivendo a sua ilusão.

Se assim é, como pode o Corpo Governante concentrar seu artigo apenas em responsabilidade pessoal? Embora seja verdade que cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus, a Bíblia também fala de outro tipo de responsabilidade. A esse respeito, Deus falou ao profeta Ezequiel:

Ai dos pastores de Israel, que só cuidam de si mesmos! Não é do rebanho que os pastores deviam cuidar? (Ezequiel 34:2).

E Jesus Cristo disse a respeito dos fariseus:
Não se preocupem com eles. Guias cegos é o que eles são. E, se um cego guiar outro cego, ambos cairão num buraco (Mateus 15: 14).

E Tiago escreveu:
Não muitos de vocês deviam se tornar instrutores, meus irmãos, pois vocês sabem que nós receberemos um julgamento mais pesado (Tiago 3:1).

Portanto, apesar de o Corpo Governante ter apresentado o assunto de modo a suscitar apenas responsabilidade pessoal, a Bíblia Sagrada indica que há também responsabilidade por parte de quem se porta como guia espiritual.  Com isso, relembrando a analogia da pessoa que comete o grave erro de tomar um remédio errado, em quantidades erradas, pode apropriadamente ser ampliada para incluir também a responsabilidade por erro de prescrição.

Estabelecido isso, e tendo em mente que o Corpo Governante aparenta querer isentar-se responsabilidade, vejamos como ele responde à pergunta temática, mas sem acabar por incriminar a si mesmo.

“Por que alguns entendem a Bíblia de forma errada?”

A revista começa apresentando um questionamento imaginário, presumível:

“Como os exemplos anteriores mostraram, muitas pessoas entendem de forma errada algumas passagens da Bíblia. Mas por que Deus permite que isso aconteça? Alguns talvez pensem: ‘Se Deus é tão sábio e tem tanto conhecimento, ele poderia ter nos dado um livro mais fácil, para todo mundo entender sem muito esforço. Por que ele não fez isso?’”. 

E então três respostas são apresentadas:


A Bíblia foi escrita para ser entendida por pessoas humildes e que querem realmente aprender.

Esta resposta é justificada com as palavras de Jesus Cristo

Eu te louvo publicamente, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste cuidadosamente essas coisas dos sábios e dos intelectuais, e as revelaste aos pequeninos. (Lucas 10:21).

O artigo continua:

A Bíblia foi escrita de uma forma que apenas quem tem a mente aberta consegue entender a sua mensagem. Pessoas orgulhosas, como geralmente os ‘sábios e intelectuais’ são, podem acabar entendendo errado a Bíblia. Mas os que são como os “pequeninos”, ou seja, os que são humildes e querem aprender, entendem da maneira certa o que a Bíblia diz. Deus foi muito sábio na forma como fez a Bíblia!

Agora parece ficar claro por qual motivo o Corpo Governante citou apenas erros que ele jamais cometeu. Dessa forma, o leitor desavisado, que não sabe das inúmeras vezes que esta liderança religiosa entendeu a Bíblia de forma errada, não irá taxar o próprio Corpo Governante de orgulhoso e de mente fechada.

A Bíblia foi escrita para pessoas que buscam a ajuda de Deus para entendê-la.

Esta resposta é justificada com  as seguintes palavras de Jesus Cristo:
“O ajudador, o espírito santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinará todas as coisas a vocês.” (João 14:26).

Embora o texto diga unicamente que Deus forneceria ajuda para que a Sua palavra fosse entendida, o Corpo Governante acrescenta a isso uma conclusão improvável:
Deus não dá seu espírito para quem não busca a ajuda dele. Para essas pessoas, a mensagem da Bíblia pode parecer um mistério.

Quem ler este artigo e sabe apenas dos “erros” cometidos por pessoas de outras religiões, como deduzir à base da Bíblia que o planeta Terra será queimado por fogo e que ela apoia o conceito de predestinação, pode até ficar maravilhado ao saber o porquê disso. Mas com certeza ficaria muito intrigado ao saber que a própria Torre de Vigia está se debatendo há décadas para entender o sentido da palavra “geração” e que, por tantas respostas que já forneceu, esta palavra lhe é certamente “um mistério”, o que, segundo sua própria explicação, é evidência de que ela própria não tem buscado a ajuda de Deus.
Algumas partes da Bíblia só podem ser entendidas pelos humanos na hora que Deus escolher.

Esta resposta é justificada com as seguintes palavras do profeta Daniel:

“Quanto a você, Daniel, mantenha em segredo as palavras e sele o livro até o tempo do fim. Muitos farão uma busca, e o conhecimento verdadeiro se tornará abundante.” [...] Quanto a mim, ouvi, mas não consegui entender, de modo que perguntei: “Ó meu senhor, qual será o resultado dessas coisas?” Então ele disse: “Vá, Daniel, porque as palavras devem ser mantidas em segredo e seladas até o tempo do fim. Muitos se purificarão, se embranquecerão e serão refinados. E os maus farão o que é mau, e nenhum dos maus entenderá; mas os que têm discernimento entenderão. (Daniel 12:4,8-10).

Finalmente, nesta única resposta, a liderança das Testemunhas de Jeová considerou apropriado admitir que já interpretou a Bíblia de forma errada – embora, como de costume, atribua tais erros a todas as Testemunhas:

As Testemunhas de Jeová já entenderam errado algumas passagens da Bíblia porque a hora certa ainda não tinha chegado. Mas, quando chegou a hora de Deus revelar o significado, as Testemunhas de Jeová corrigiram seu entendimento sem demora. Elas acreditam que, fazendo isso, estão imitando os apóstolos de Jesus, que foram humildes e ajustaram seu modo de pensar quando Jesus os corrigiu. — Atos 1:6, 7.

Quando nos submetemos a um teste, seja na escola ou em alguma outra atividade da vida, geralmente cabe a um examinador avaliar como nos saímos, e geralmente é ele que aponta onde erramos, até porque, se sempre pudéssemos saber onde erramos, muito provavelmente não teríamos cometidos tais erros.  O Corpo Governante, no entanto, ousou ser seu próprio examinador e indicou o seu próprio erro, ou, mais apropriadamente, escolheu atribuir a si o erro menos constrangedor. Afinal de contas, como podia atribuir a si os demais, tal como orgulho, mente fechada e indisposição para pedir a Deus que o ajudasse a entender a Bíblia?

E se é verdade que algumas passagens da Bíblia só podem ser entendidas na época escolhida por Deus, não me parece justificável que o Seu autoproclamado canal de comunicação tenha licença divina para fornecer aos fiéis todo tipo de reposta errada, tal qual fez a Torre de Vigia, enquanto supostamente aguardava o tempo certo para que Deus lhe revelasse o entendimento correto. Conforme podemos ler no Velho Testamento, quando um profeta disse ao povo algumas palavras que atribuíam a Deus, mas que eram de fato inventadas por ele próprio, teve a morte como consequência, uma vez que esta era a penalidade para falsos profetas (Deuteronômio 18:20-22; Jeremias 28).  Com base neste precedente bíblico, a Torre de Vigia, tal qual autoproclamado canal de comunicação entre Deus e os fiéis, deveria ter se calado até ter o entendimento correto das profecias bíblicas. Assim, enquanto outros líderes religiosos forneciam todo tipo de resposta às profecias bíblicas, as lideranças das Testemunhas, como Russell, Rutherford, Knorr e o atual Corpo Governante, deveriam estar usando os meios de comunicação e dizendo “Não sabemos o que o Senhor tem a nos dizer”, “Estamos aguardando a palavra correta de nosso Pai”, “Não sabemos ainda, não sabemos ainda!”.

Também é preciso acrescentar que as palavras de Daniel parecem restringir-se a profecias. Porém, os erros da liderança das Testemunhas extrapolam essa fronteira, atingindo vários outros ensinos.

Acreditando que falava em nome de Deus, a organização Torre de Vigia se manifestou (e ainda se manifesta) em áreas tão sensíveis como questões de saúde, autorizando e desautorizando tratamentos, o que, muito provavelmente, resultou em mortes indevidas, como comprovam as seguintes citações referentes a vacinas e transplantes.

A respeito de vacinas

A vacina teve seu inicio no século 17, mas já no século passado, apesar de protestos por parte de pessoas que ignoravam sua eficácia e até acreditavam tratar-se de uma forma de espalhar doenças, a comunidade médica de modo geral já estava convicta de que se tratava de um eficaz método preventivo.

Diante desse cenário, a Torre de Vigia, supostamente depois de pedir a ajuda do Espírito Santo, e considerando que era humilde e de mente aberta, expressou-se da seguinte forma, na revista A Idade de Ouro (agora Despertai!) de 1º de maio de 1929, página 502:




Tradução:

Pessoas ponderadas prefeririam ter varíola em vez de serem vacinadas, porque as vacinas propagam as sementes da sífilis, cancros, eczema, erisipelas, scrofula, tuberculose, até a lepra e muitas outras doenças nojentas. Portanto, a prática da vacinação é um crime, um ultraje, e um engano. 

Somente em 1952, na revista A Sentinela de 15 de dezembro, página 764, as vacinas foram colocadas na categoria de questão de consciência.



Tradução:

A questão da vacinação é algo que o indivíduo deve encarar e decidir por si próprio.

Finalmente, em 1965, na revista Despertai! de 22 de agosto (edição americana), em um artigo de cinco páginas, as vacinas foram reconhecidas como sendo um meio eficiente de reduzir drasticamente casos de várias doenças. 

A respeito de transplantes:

A história do transplante começa ainda na antiguidade, mas somente em meados do século passado teve sua eficiência aprimorada ao ponto de alcançar consideráveis níveis de segurança.  Também neste aspecto, a Torre de Vigia expressou-se forma enfática, porque, como ela supunha, era humilde o suficiente para ter a atenção divina, bem como também tinha a mente aberta, e reconhecia a necessidade de ter a ajuda do Espírito Santo. Considerando isso, na revista A Sentinela de 1º de agosto de 1961, página 480, ela escreveu:



Tradução:

"Há alguma coisa na Bíblia contra se doar os olhos (após a morte) para serem transplantados numa pessoa viva? A questão de se colocar o corpo ou parte do corpo à disposição dos homens da ciência ou dos médicos, após a morte, para experiências científicas ou para transplantação em outros, não é vista com bons olhos por certos grupos religiosos. Entretanto, não parece haver nenhum princípio ou lei bíblica envolvida. É, portanto, algo que cada pessoa deve decidir por si mesma."

Este é o atual posicionamento da liderança religiosa. No entanto, a revista A Sentinela de 15 de novembro de 1967, página 702, trouxe a seguinte conclusão:




Tradução das partes sublinhadas:

Será que há alguma objeção bíblica a que se doe o corpo para uso na pesquisa médica ou que se aceitem órgãos para transplante de tal fonte?... Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas da carne de outro humano. Isso é canibalesco... Jeová não deu permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por receberem canibalescamente em seus corpos a carne humana, quer mastigada quer na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados de outros.

E somente tão tarde quanto no início da década de 1980 foi decidido que o transplante é algo que fica a critério da consciência de cada um, conforme pode ser lido na revista A Sentinela de 1º de setembro de 1980, página 31 (edição brasileira):



Durante 23 anos, desde 1929 até 1952, as Testemunhas de Jeová estiveram proibidas de aceitar vacinas, e durante 13 anos, de 1967 até 1980, estiveram proibidas de aceitar transplante órgãos.  Quantas Testemunhas perderam suas vidas seguindo essas insanas diretrizes religiosas, ninguém sabe. Mas é fato que tais normas são atualmente um grande segredo que a atual liderança, o Corpo Governante, faz questão de se calar a respeito, nunca sequer se referindo a elas quando faz as suas recapitulações de “novas luzes”. E é bem compreensível por que optou por começar o seu artigo citando apenas erros que ele jamais cometeu, como ensinar que o planeta Terra seria queimado e que a Bíblia apoia a predestinação. Posto o assunto dessa forma, apontando erros de outros e omitindo os seus próprios, o Corpo Governante até pôde ousar ao ponto de contar a analogia de uma pessoa que, por não entender corretamente uma bula, pode acabar pondo fim à própria vida. Também, levando em conta o próprio histórico desta liderança religiosa, fica evidente porque não lhe era apropriado incluir na sua análoga a responsabilidade por erro de prescrição.

Conclusão

Se o Corpo Governante, se servindo das palavras de Daniel, pretende justificar seus erros a respeito de profecia, que passagem bíblica pode usar para justificar seus erros a respeito de vacina e transplante? Se pudermos considerar como válidas as suas afirmações de que orgulho, mente fechada e indisposição para pedir a ajuda de Deus justifica o fato de muitos entenderem a Bíblia de forma errada, o que impede de esses mesmos atributos serem aplicados a ele próprio, bem como às lideranças anteriores?

Se avançarmos um pouco mais, talvez o orgulho e o prazer oferecido pelo usufruto da autoridade justifique muito mais do que a atual liderança está disposta a admitir. Por exemplo, não há nenhuma fonte histórica que comprove a afirmação de que Jerusalém foi destruída em 607 AEC, mas é justamente essa data que fornece o fundamento para o ano de 1914, que é a base para toda a autoridade exercida pela Torre de Vigia. Se abrisse mão dessa data, o atual Corpo Governante teria que vir a público e reconhecer que não possui nenhuma designação divina para representar a Deus na Terra. Mas pelo histórico desta liderança religiosa, esse reconhecimento exigiria uma humildade que ela nunca demonstrou possuir.

Também igualmente a questão do sangue, com sua transfusão proibida às Testemunhas de Jeová já por mais de meio século, pode ter custado a vida de milhares de pessoas, tal como o exemplo recente de Eloíse Dupuis, do Canadá, que morreu após ter complicações no trabalho de parto e ter recusado transfusão em razão de suas crenças religiosas. Não há nenhuma base para se concluir que a proibição de consumo de sangue, conforme consta na Bíblia, inclua também a transfusão, e a própria Torre de Vigia tem arranjado argumentos dos mais estapafúrdios com o intuito de sustentar seu conceito, numa evidente demonstração de que ela própria já reconhece que essa doutrina não te fundamento bíblico. Mas depois de décadas defendendo esse conceito, depois de milhares de mortes que dele resultaram, é compreensível que uma porção maior de humildade seria necessária para admitir um erro dessa magnitude, mas, como já vimos, de tamanha humildade não foi dotada a Torre de Viga.

Diante disso, de todo esse histórico de entendimento errado da Bíblia Sagrada, bem como de evidentes erros que atualmente são mantidos, como a data de 1914 e a proibição de transfusão, creio que a organização Torre de Vigia nunca esteve apta a se levantar de dizer por que outros entendem a Bíblia de forma errada. Mas uma vez que o fez, declarando que orgulho, mente fechada e indisposição para depender de Deus justificam tais erros, ela brinda-nos com uma singela descrição de si mesma, com evidencia seu próprio histórico.

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2 comentários:

  1. Ao conseguir terminar de ler seu artigo,isto só agora,segunda feira à tarde,apesar de já te-lo visto já no domingo,não havia tido tempo para ler na íntegra,mas estava ansiosa por isso.Finalizada a leitura,fico procurando as palavras para parabeniza-lo mais uma vez pela ótima narrativa...pontos bem objetivos com os quais a maioria das pessoas já está familiarizada,contudo para aqueles que nunca ouviram falar deles,ficam informados o suficiente para entender a questão e o fato de indicar no seu livro onde o assunto é mais pormenorizado,ajudará os que gostariam de conhecer mais a fundo as questões citadas.Conforme já deve ter percebido,gosto muito de escrever também,mas faço apenas para relembrar os pontos mais importantes que vou encontrando em minhas pesquisas,como também para os meus desabafos,visto que não tenho quase ninguém para expressar meus sentimentos em relação a toda essa descoberta.Desta forma fico realmente admirada com sua capacidade de escrever os artigos e passar para o leitor a real situação e consigam ver quão dissimulados e quão espertos no mau sentido são esses homens que por muito tempo eu e você tínhamos como nossos líderes espirituais...se não tivéssemos acordado por coisas que foram além de suportarmos,talvez ainda estivéssemos lá lendo literaturas como esta e concordando em gênero,número e grau com elas.Vendo as coisas agora pelo lado de fora,a impressão que se tem com o conteúdo desta e outras tantas matérias é que eles tripudiam em cima da inteligencia de seus fiéis...fico imaginando que devem dar boas gargalhadas pelas costas do rebano e dizendo entre si: Os trouxas comeram com farinha mais esta porcaria que escrevemos! será que não se dão conta de quantas vezes já os engamos? Até quando vão ficar dizendo Amém pra tudo que fazemos,dizemos ou ordenamos? Será que nunca vão ler a bíblia e descobrir que somos os lobos em pele de ovelhas? Os Fariseus modernos? Parabéns pelo artigo e continue usando seu dom para ajudar os sinceros! Abraços!

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  2. Bom dia Lourisvaldo.
    Você faz aqui um belo trabalho e o seu livro é um alerta para salvar vidas. Faz tudo de uma forma consciente, sem expor ninguém, sem tecer comentários maldosos, apenas conta a verdade que eles escondem. Um feliz final de semana. Enorme abraço.

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